Escassez de temas sobre diversidade empobrece grades curriculares

As estudiosas Nadia Patrizia e Susan Lewis compartilham dessa ideia. Elas acreditam que muitos profissionais saem das universidades sem ser capazes de lidar com as diferenças

Do racismo a homofobia, debater preconceito é uma tarefa difícil e que deve ser feita com muito cuidado. Na universidade, espaço de disseminação de conhecimento e aprendizado, é necessário, mesmo diante dessa complexidade, discutir o assunto e formar profissionais que compreendam como se deve lidar com as diversidades social, sexual e racial. Entretanto, não são todas as instituições de ensino superior que trabalham com projetos sobre o assunto. Os trabalhos que existem tentam da melhor forma mostrar a alunos e professores que é possível viver com pessoas diferentes umas das outros com respeito mútuo.

O Núcleo de Diversidade e Identidade Sociais (NDIS) da Universidade de Pernambuco (UPE) tem justamente o objetivo de discutir questões de preconceito e diversidade. Desde 2010, o setor atua promovendo eventos e projetos. O NDIS faz parte dos grupos chamados de órgãos suplementares, ligados à Reitoria, fazendo a abordagem desses temas de maneira transversal, ou seja, como as graduações não têm como incorporar essas questões nas suas grades curriculares, esses grupos assumem a responsabilidade de abordá-las. Cultura, raça e sexualidade estão entre os principais pilares do Núcleo.

De acordo com a coordenadora do NDIS, Nadia Patrizia Novena, grande parte das instituições de ensino não possui setores sobre diversidade porque as grades curriculares de seus cursos são voltadas para o mercado de trabalho. "Os currículos estão muito voltados para a formação profissional. Eles olham muito para as questões específicas dos cursos. Então, esses temas - sobre diversidade e preconceito - ficam sempre sem espaço.

Esses profissionais se formam, mas, sem condições de lidar com algumas questões", explica Nadia.

Trabalhar a diversidade entre os universitários de fato é uma atividade que não é simples. Quem compartilha dessa ideia é a mestra em ciência política e doutora em história, Susan Lewis, que é membro do NDIS. Segundo ela, é necessário que os professores que almejam trabalhar os temas sobre preconceito apliquem a teoria aliada à "sua transformação interna". "Alguém tem um título e autoridade para falar sobre o assunto, mas, isso não significa está sensível a uma prática transformadora", comenta Lewis. Nadia Novena, que além de coordenar o NDIS é mestra em educação e doutora em sociologia, concorda. Porém, ela acredita que independente do que os professores "acham" ou o que pensam, eles devem passar conhecimento para os estudantes e não discriminá-los por alguma razão. "A gente precisa saber que o professor que está na universidade não está ali para dizer o que acha. Ele está ali para cumprir o papel dele de profissional. Por tanto, não é para estar olhando se o aluno é gay ou negro. Professor tem que estar ali para ensinar", diz.

Quando casos de preconceito acontecem na universidade, seja de aluno para com aluno ou professor, ou do docente contra o estudante, a vítima pode, dependendo da situação, procurar a polícia e fazer uma denúncia, como por exemplo, nos casos de racismo. Porém, cabe também as instituições o papel de estar atentas aos problemas que acontecem em suas dependências. Boa parte dos estabelecimentos educacionais faz o controle do comportamento dos alunos por meio de manuais ou estatutos. Diante de todo esse cenário, as especialistas Nadia e Susan discutem a abordagem da diversidade no ensino superior no vídeo abaixo:

A doutora em psicologia da educação, Charmênia Cartaxo, acompanha de perto universitários vítimas de preconceito ou com problemas de adaptação à universidade e familiares, entre outras situações. Ele coordena o Serviço de Orientação Psicopedagógica da UPE e tem encontros com os estudantes. Confira como a doutora enxerga o preconceito e as ações a serem feitas sobre a temática da diversidade:

Se das universidades vão continuar saindo profissionais com conhecimentos relativos apenas as suas áreas de trabalho, é possível que homens e mulheres continuem desprezando outras pessoas por preconceito. Isso acontecerá também se das escolas saírem crianças e jovens com as cabeças voltadas só para o vestibular. É preciso formar não só estudantes e profissionais. é possível formar também indivíduos que preguem respeito e que aceitem as diferenças.

Como os próprios estudiosos do tema afirmam, antes de qualquer aplicação da teoria sobre diversidade, é importante que a gente analise como somos preconceituosos. Depois disso, se pelo menos abolirmos o repúdio às diferenças que há em nós, é provável que seremos pessoas mais abertas ao respeito mútuo. Fica a torcida pela valorização da diversidade além dos muros da universidade e que ela se insira em todos os setores sociais.

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